Surgiu uma entrevista perturbante numa revista estrangeira, dada pela anterior chefe da Unidade de Informação Financeira de Angola, Inocência Brito.
Inocência Brito diz com todas as letras que a corrupção em Angola está a aumentar, insinuando como nenhum ministro sabe se amanhã será ministro, tenta roubar o dinheiro público mais rapidamente, também afirma que as informações que obtinha do exterior e enviadas para o Ministério Público, muitas vezes eram vazadas para os alvos, que se concertaram para a afastar. No fundo, conclui que os alvos da corrupção já se reorganizaram e voltaram a dominar as estruturas do Estado, enquanto, simultaneamente, novos actores vão surgindo.
Se isto é ou não verdade, não sabemos. Podem ser apenas afirmações despeitadas de alguém que foi demitido, uma vez que se tornou moda vir lavar as mágoas na praça pública. O antigo comandante da Polícia Nacional, Paulo Almeida, fez o mesmo. A verdade é que se ouve falar de corrupção, mas não surgem novas provas. Portanto, a corrupção pode não estar a voltar.
Contudo, o que está a voltar é a percepção que há corrupção, e isso é quase tão grave como a corrupção em si mesmo.
As autoridades devem agir e a acção tem dois momentos. O primeiro é o de resolver assuntos pendentes. Não tem sentido algum Isabel dos Santos continuar a rir-se no Dubai, sem sequer ser acusada de algum crime. Torna-se humilhante para as autoridades judiciárias nacionais. Mesmo se o objectivo for um acordo, não se consegue um bom acordo com a mera inércia. Além disso, é inconcebível nada se fazer em relação a Manuel Vicente. Os factos públicos apontam para que ele tenha sido, muito provavelmente, o maior actor da corrupção em Angola. Não haver qualquer investigação também não ajuda.
Depois, há o segundo momento, e este é uma nova iniciativa contra a corrupção agora contra actuais ministros ou governadores. Ver quem se destaca por práticas corruptas, reunir provas e atacar. A luta contra a corrupção tem de ser uma constante, que se repete, que se mantém, que retorna. Sem isso acontecer a corrupção volta e muito mais a percepção da corrupção.