As pescas, um dos sectores que deveria ser uma das mais valias do país, continua a espelhar a imagem de desorganização e baderna, que muitas vezes associamos a Angola.

O potencial está mais do que identificado. Ainda recentemente a Organização das Nações Unidas mencionou isso mesmo, realçando que a nação africana possui um vasto litoral, ampla mão de obra no setor pesqueiro e boas relações comerciais com os principais importadores europeus e asiáticos. Contudo, também alertou para o facto de Angola enfrentar desafios como a eterna questão da informalidade e a falta de infraestrutura; segundo dados levantados pela organização, a atividade pesqueira emprega 150 mil pessoas, sendo 90% no mercado informal.

Daí que não seja de surpreender as queixas que se têm acumulado, designadamente no que diz respeito à pesca de arrasto e a falta de fiscalização. A prática da atividade pesqueira excessiva por diversos operadores que olham apenas para o lucro, negligenciando a biomassa, tem como consequência a captura excessiva do pescado, tanto por embarcações estrangeiras como por empresas angolanas.

A fraca fiscalização e multas baixas, faz com que esta pesca de arrasto esteja a aniquilar gradualmente os recursos marinhos da costa angolana. Naturalmente que os agentes ligados à pesca artesanal, acabam por ser os mais prejudicados, não se antevendo para já boas novas para estes pescadores.

Uma fonte governamental admite que “a presença de cada vez mais embarcações estrangeiras e a falta de rigor na gestão dos recursos marinhos fez derrapar a captura de pescado e do consumo”.

O empresário e presidente da Aliança Empresarial de Benguela (AEB), Adérito Areias, já havia alertado no passado mês de Junho que a causa principal para esta crise do sector tem a ver com “o excesso de arrastões” que fizeram uma captura não controlada, abortando a reprodução de algumas espécies. Temos problemas graves de biomassa, que foi seriamente atacada e penso que a situação está catastrófica a nível da pesca marítima”.

Uma das soluções apontadas, pelo menos no atual cenário, será gerir os recursos de acordo com a abundância ou biomassa existente. A prioridade deveria ser dada aos cargueiros nacionais, pois à partida, haveria uma maior responsabilidade na exploração dos recursos. Apesar da longa costa do país, Angola ainda importa pescado dos outros países, tendo inclusive aumentado esse número no ano passado para 5.156 toneladas.