O Grupo Wagner, o exército privado financiado pelo agora infame empresário Yevgeny Prigozhin, tornou-se um dos actores mais falados na guerra da Rússia contra a Ucrânia. No entanto, o Grupo Wagner já não é o que era em alguns aspectos importantes.

Meses de guerra deixaram o grupo uma sombra do que era antes. Um comandante sénior da Wagner estimou a taxa de baixas do grupo ao longo da guerra em quase 80%. De um pico de 78.000 soldados, 49.000 dos quais recrutados nas prisões russas, cerca de 40.000 foram feridos e 22.000 estão mortos.

Segundo o comandante, alguns dos feridos regressaram ao serviço, deixando a Wagner com cerca de 25.000 soldados, Este comandante afirma também que cerca de 10.000 seguiram Prigozhin para o exílio na Bielorrússia. Os restantes estão em casernas na Ucrânia ou a convalescer na Rússia. (Estes números não podem ser verificados de forma independente, mas um comandante do grupo que fala a meios de comunicação social amigos da Wagner tem poucas razões para exagerar a sua actual fraqueza).

Por conseguinte, a Wagner não desempenha atualmente praticamente qualquer papel na Ucrânia.

Mas mesmo com uma força muito reduzida, a Wagner é uma presença a ter em conta na Bielorrússia. O presidente do país, Alexander Lukashenko, não deve sentir-se muito confortável com 10.000 homens fortemente armados e testados em combate – muitos dos quais têm como morada mais recente as prisões russas – a acampar e a treinar no seu território, sobretudo porque as tropas Wagner não recebem ordens dele nem dos seus comandantes.

Em suma, na sua forma actual, a Wagner não é suficientemente forte para ameaçar a Ucrânia ou criar problemas com a vizinha Polónia, membro da NATO, apesar de algumas bravatas recentes. Mas Putin há muito que quer colocar a Bielorrússia mais diretamente sob o controlo do Kremlin, e a Wagner é mais do que suficientemente forte para um dia, aumentar a influência que tem sobre Lukashenko – se Putin conseguir finalmente tirar Prigozhin de cena e colocar a Wagner diretamente sob o comando russo.

Essa ideia pode tornar-se mais apelativa com o tempo, à medida que a guerra se prolonga e Putin precisa de mais soldados – e enquanto Lukashenko continua a resistir à utilização de combatentes bielorrussos na Ucrânia.

Mas Putin também tem de se preocupar com as forças Wagner. Apesar de o grupo continuar a servir os interesses russos em África e no Médio Oriente, estas são as mesmas tropas que participaram num motim que colocou um exército privado a menos de 200 kms de Moscovo, há apenas algumas semanas.

O resultado final: Prigozhin criou um monstro que pode vir a criar problemas muito depois de o seu líder ter desaparecido.