O Presidente russo, Vladimir Putin, disse aos líderes africanos em São Petersburgo, que a Rússia iria enviar gratuitamente até 50.000 toneladas de cereais para seis países africanos.

A promessa feita na cimeira Rússia-África surge depois de Moscovo ter abandonado um acordo sobre cereais que permitia o transporte de milhões de toneladas de produtos alimentares ucranianos através do Mar Negro.

“Nos próximos meses, poderemos assegurar o fornecimento gratuito de 25.000 a 50.000 toneladas de cereais ao Burkina Faso, Zimbabué, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia”, afirmou Putin no discurso de abertura da cimeira Rússia-África.

“Já afirmei que o nosso país pode substituir os cereais ucranianos, tanto numa base comercial como na forma de ajuda aos países africanos mais necessitados, tanto mais que esperamos uma nova colheita recorde este ano”, acrescentou.

O anúncio surge depois de, na semana passada, a Rússia ter suspendido um acordo que permitia o transporte de cereais ucranianos dos portos do Mar Negro para países de África, do Médio Oriente e da Ásia.

Esta “boa ação” é, na verdade, um esforço do líder da Rússia para demonstrar ao mundo que tem aliados, apesar do isolamento do Ocidente e da tensão devido ao fim do acordo de exportações pelo Mar Negro, que impacta a África.

Tanto a Rússia como a Ucrânia são importantes fornecedores mundiais de cevada, trigo, milho, óleo de girassol e outros produtos alimentares de que muitos países em desenvolvimento dependem.

A exportação destes fornecimentos foi interrompida depois de a Rússia ter lançado a sua invasão em grande escala no ano passado, fazendo disparar os preços dos alimentos e suscitando preocupações sobre a segurança alimentar e a fome no mundo.

O acordo sobre os cereais do Mar Negro, agora em colapso, mediado pela ONU e pela Turquia em meados de 2022, permitiu a exportação de quase 33 milhões de toneladas de cereais ucranianos, apesar da guerra.

Putin diz que a Rússia está pronta para substituir os cereais ucranianos.

Putin afirmou na cimeira que a Rússia espera uma colheita recorde de cereais este ano e que está pronta a substituir as exportações de cereais ucranianos para África.

Putin respondeu também às críticas ocidentais sobre a decisão da Rússia de abandonar o acordo sobre os cereais, afirmando que a maior parte dos cereais exportados ao abrigo do acordo se destinaram a países com rendimentos elevados ou acima da média, incluindo países da União Europeia.

Além disso, culpou as sanções ocidentais impostas pela guerra na Ucrânia por impedirem a Rússia de fornecer fertilizantes gratuitos aos países pobres.

“Está a surgir um quadro paradoxal. Por um lado, os países ocidentais estão a impedir o fornecimento dos nossos cereais e fertilizantes (através de sanções) e, por outro, culpam-nos hipocritamente pela atual situação de crise no mercado alimentar mundial”, afirmou Putin.

Para além da segurança alimentar, a cimeira deverá também centrar-se na expansão do comércio.

O Presidente Russo afirmou no seu discurso que Moscovo está disposta a trabalhar com os líderes africanos no desenvolvimento das suas finanças e na utilização de moedas regionais para pagamentos comerciais. Acrescentou ainda que a Rússia está interessada em aprofundar os seus laços com o continente e aumentar radicalmente o comércio.