As eleições antecipadas que se realizaram em Espanha, deram origem a mais um parlamento suspenso, o que significa que nenhum partido ou coligação tem a maioria dos lugares para formar governo. Então, o que é que pode acontecer a seguir?
Apresentamos em baixo quatro cenários, ordenados do mais provável para o menos provável.
1 – Repetição das eleições. Nos próximos dias, o Rei Felipe VI pedirá ao líder do partido com mais assentos no parlamento para tentar formar um governo. Trata-se de Alberto Núñez Feijóo, do Partido Popular, de centro-direita, que ficou em primeiro lugar, com 132 dos 350 deputados.
Infelizmente para Feijóo, o PP e o partido de extrema-direita Vox não conseguiram obter uma maioria absoluta. O mesmo se aplica ao primeiro-ministro Pedro Sánchez, do partido de esquerda PSOE, que também não tem votos suficientes, juntamente com a coligação de extrema-esquerda Sumar, apoiada por duas forças separatistas progressistas catalãs e bascas.
Se nenhum candidato obtiver a maioria absoluta na primeira volta, a segunda volta requer apenas uma maioria simples (mais votos a favor do que contra). E se nenhum governo for formado dois meses após a primeira votação, a Constituição espanhola obriga a ir às urnas novamente, como o país fez duas vezes após confusões parlamentares semelhantes em 2015-2016 e 2019.
2 – Governo de coligação de esquerda. O atual governo de coligação de esquerda (PSOE + Podemos, agora rebatizado de Sumar) poderá manter-se no poder se o Junts, partido secessionista catalão de centro-direita, votar em Sánchez na primeira volta ou se abstiver na segunda volta. Mas as negociações com Carles Puigdemont, líder do Junts, podem revelar-se tóxicas para o primeiro-ministro.
Caso o seu nome não lhe seja familiar, o antigo presidente catalão, de cabelo desgrenhado, é um fugitivo da justiça espanhola desde outubro de 2017, quando fugiu para a Bélgica depois de ter declarado unilateralmente a independência na sequência de um referendo que foi considerado farsa. Pode apostar que, em troca dos seus sete votos, Puigdemont vai exigir que Sánchez permita que a região em conflito realize um plebiscito (legal) – uma sentença de morte política para qualquer primeiro-ministro espanhol.
Ainda assim, o autoproclamado mártir da independência catalã poderá contentar-se com um regresso a casa, se todas as acusações contra ele forem retiradas. Isso seria impensável para qualquer outro, exceto Sánchez, que já perdoou os políticos catalães que tentaram separar-se com Puigdemont e atenuou o crime em si.
3 – Governo minoritário de centro-direita. Esta é uma hipótese para já muito otimista, mas os números fazem sentido. Feijóo poderia tentar reunir uma maioria de votos muito reduzida, cortejando o moderado Partido Nacionalista Basco, ou PNV, um tradicional kingmaker pós-eleitoral tanto para o PP como para o PSOE.
Para o fazer, porém, o PNV pedirá provavelmente que o PP governe sozinho. Por outras palavras, sem o Vox, um partido de extrema-direita que quer retirar a autonomia não só ao País Basco, mas a todas as regiões espanholas e recentralizar o poder no governo nacional. Será também difícil de engolir para o Vox, cujos eleitores poderão preferir arriscar-se numa nova eleição a apoiar Feijóo praticamente de graça.
4 – Grande coligação. Imaginemos que o PP e o PSOE se juntam para formar um governo de coligação que represente quase dois terços dos espanhóis que votaram em qualquer um dos partidos. Foi o que aconteceu muitas vezes em Israel e, mais recentemente, na Alemanha.
Mas, em Espanha, onde Feijóo e Sánchez preferem continuar a votar vezes sem conta, é um cenário muito pouco provável.
Recordamos que nos últimos anos, as relações entre Angola e Espanha estreitaram consideravelmente no plano diplomático, político e económico.