A moeda nacional angolana atravessa um período de instabilidade, que está a deixar todos nervosos, desde economistas, políticos e seguramente a população em geral.
No final de Junho, a moeda desvalorizou-se pela primeira vez para mais de 800 kwanzas face ao dólar. A subida da inflação mantém-se e, apesar de haver alguns sinais de possível intervenção das finanças nos mercados, isso ainda não se verificou.
O kwanza já caiu 37% desde 11 de maio, no seguimento da decisão governamental de acabar com os subsídios estatais aos combustíveis, o que motivou forte contestação social e um aumento dos preços. O Presidente da República, João Lourenço já lançou vários avisos, tendo mesmo feito notar que o Banco Nacional de Angola (BNA) deve implementar medidas, de forma a fortalecer a moeda, e ajudar a economia a diversificar-se e controlar a inflação. A inflação em Angola no mês de maio aumentou para 10,62% pondo fim a 15 meses de declínio, depois de o governo ter cortado os subsídios aos combustíveis.
Se os últimos três anos foram de valorização do kwanza, estes últimos meses têm sido um autêntico pesadelo. Uma das explicações prende-se com o facto de não haver divisas suficientes para as necessidades do mercado, resultado da descida do preço do petróleo. Daí que as últimas notícias deem conta que ao existir escassez de dólares e da subida abismal da moeda estrangeira no país, muitos cidadãos congoleses procurem o posto fronteiriço do Luvo para vender de forma não oficial dólares a cidadãos angolanos. No país vizinho, um dólar norte-americano custa menos de 500 kwanzas, dependendo do montante e do negócio que for realizado, enquanto em Angola, no mercado informal, para obter um dólar são necessários cerca de 800 kwanzas.
Perante este cenário, o recém-nomeado governador do BNA, Manuel António Tiago Dias, já reviu a previsão de inflação para este ano em alta, antecipando agora um aumento dos preços entre 9 e 11% no final de 2023.
A agência de cotação financeira Fitch Ratings reduziu a previsão de crescimento para 1,5% do PIB este ano, 2% no próximo ano, face aos 3,1% registados em 2022, estimando também que a inflação suba de 14,7%, no final deste ano, para 17,1% em 2024, quando até agora previa que já no próximo ano os preços crescessem a apenas um dígito. Os analistas da Fitch consideram que o kwanza, que perdeu 30% do valor face ao dólar no primeiro semestre, chegue ao final do ano a valer 760 kwanzas por dólar, face aos 504 kwanzas por dólar no final de 2022, “mas uma depreciação maior é possível se a oferta interna continuar limitada”, alertam.