Há um problema na política angolana que resulta do facto de a lógica amigo-inimigo estar, novamente, a imperar.

Atualmente, o pensamento independente é condenado. Se alguém sai dos alinhamentos pré-estabelecidos tem como resultado certo o linchamento nas redes sociais, pelo menos.

Um comentador imparcial que um dia aplauda uma medida do governo, é de imediato insultado e apelidado de “lourencista”. Se o mesmo comentador, noutro dia critica o governo, é coberto de renovados insultos, e apelidado de “vira-casacas”.

Torna-se muito difícil navegar nestas águas, em que ou somos amigos ou inimigos, não havendo lugar para o diálogo efetivo, a análise objetiva, a discussão civilizada.

Sabemos que as lógicas inimigo-amigo são aquelas que levam às mais terríficas ditaduras, seja de esquerda ou direita. Por isso, é importante sair dessa lógica e procurar pontes de entendimento.

É evidente que percebemos que alguns sectores da sociedade travam uma luta de morte contra o governo. São aqueles que no passado eram poderosos e de repente deixaram de o ser. Mas tais pessoas não devem ter o poder de determinar o que se passa no espaço público e levar todos atrás do seu descontentamento.

Por outro lado, o governo não tem sido apto na construção de plataformas de diálogo e pontos de convergência. Parece perplexo com a contemporaneidade e a evolução do pensamento da sociedade civil e sua capacidade reivindicação, não sabendo reagir e ir de encontro aos anseios do povo.

Há todo um trabalho de pedagogia do diálogo e da deliberação democrática a ser realizado, sem o que trevas bem escuras poderão cair sobre o país.